quarta-feira, 11 de junho de 2008

God save Fernando Pessoa


Fernando Pessoa é possivelmente o mais genial dos poetas de língua portuguesa. Fernando Antônio Nogueira Pessoa em seus 47 anos de vida deixou uma obra vasta. Escrevia incrivelmente a partir de heterônimos de personalidades e estilos muito distintos. Tão fascinante quanto sua obra é sua biografia cheia de mistérios e imprecisões.

Este progama da Globonews é o primeiro episódio de uma série bastante interessante sobre o grande Fernando Pessoa. Apreciem.




Um dos meus poemas favoritos de Fernando Pessoa assinado pelo heterônimo decadentista e, posteriomente, futurista Álvaro de Campos:

ODE TRIUNFAL
6-1914



À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!

Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L'Opéra que entram
Pela minh'alma dentro!

Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!

(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)

A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!

Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes -
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!

Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!

Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente.
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!

Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes -
Na minha mente turbulenta e encandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.

Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta).

Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.

Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!

Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!

(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)

Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas.

E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!

Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de...,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!

Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! -
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosamente gente humana que vive como os cães
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!

(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)

Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!

Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!

Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.

Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos brocas, máquinas rotativas!

Eia! eia! eia!
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!

Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!

Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!

Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!

Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!

Londres, 1914 - Junho.




Otávio Bessa

Obama: ele pode sim



Por Ivan Lessa

Em 1964, Sammy Davis Jr estrelou um musical da Broadway intitulado Golden Boy, com música e letra de Charles Strouse e Lee Adams e direção de Arthur Penn. Ganhou o Emmy, o equivalente teatral ao Oscar, e a montagem ficou em cartaz dois anos.

Veio para uma temporada em Londres em 1968 e eu dei a sorte de pegar.

Golden Boy era a adaptação de uma peça de 1939 do dramaturgo de esquerda Clifford Odets, no mesmo ano filmada com William Holden e contava a história de um jovem italiano enfrentando o dilema arte (queria ser violinista) e dinheiro (querem que seja pugilista).

Prestava-se como uma luva - de boxe - para a adaptação: um lutador negro, pronto para ser explorado por quem o cercasse, brancos e negros. Eram, afinal, os anos 60 e os direitos civis estavam na agenda. Inclusive, e muito, na agenda pessoal de Sammy Davis.

A uma certa altura, com os primeiros cobres surgindo, o personagem de Sammy, Joe Napoleon, canta a música This is the life, cercado pelo séquito habitual. Aqui um trecho:

"Can I be what I wanna be?"
E o coro:
"Yes, you can!""Can I get what I wanna get?"
De novo o coro
"Yes, you can!"
Sammy pergunta:
"Can I have a car with a built-in bar,Color TV and a Playboy key,And a hundred shares of AT&T?"
E por aí afora. O séquito sempre repetindo:
"Yes, you can, yes, you can!"


O sucesso do musical e desse número, com seu devido bordão, deram o título para a autobiografia de Sammy Davis, escrita com (ou por) Burt e Jane Broyar, de 700 páginas, e publicada em 1965: Yes I Can. Na ocasião, Strouse e Adams compuseram uma música especial com esse título para Sammy gravar como um "single" para a Reprise Records.

Vida riquíssima a do talentoso e versátil entertainer americano que podia e fazia de tudo. Mais do que o resto da turma do Rat Pack (Sinatra, Dean Martin, Peter Lawford, etc) Sammy cansou-se de fazer a campanha de direitos civis (foi preso mais de uma vez, recebeu porrada e escarradas na cara) e, em 1960, saiu pelo país promovendo a candidatura de John Fitzgerald Kennedy para a presidência.

Eleito, JFK não o convidou para o baile inaugural. Sammy havia se casado com uma branca, ainda por cima sueca, May Britt. Negro com branca pegaria mal na Casa Branca do carismático e jovem presidente tido como liberal.

Não, o casal não podia. Não, eles não podiam.

A bofetada não foi grande novidade para Sammy. No livro, conta como, em Las Vegas, no auge de sua popularidade, entretinha nos hotéis e cassinos mais famosos, mas não podia neles se hospedar, chegar ao bar ou uma roleta. Porque era negro.

Não, ele não podia.

Nas eleições de 1968, Sammy Davis foi muito criticado por ter passado a votar pelos republicanos, ou, no caso, em Richard Nixon. Pasmo geral. Como é que pode, né mesmo? Sammy pôde. Apesar da repulsa nos meios liberais-democratas. Ele conhecera coisa bem pior.

Não foi fácil a vida de Sammy Davis. Ficaram os discos, muitos discos, filmes e filmetes e clips, ora na internet (vide, mas vide mesmo, YouTube). O homem era muito melhor do que lhe davam crédito. Inclusive como pessoa.

Sim, ele podia.

A conexão Obama

O slogan da campanha de Barack Obama é "Yes We Can". Não foram pagos quaisquer direitos aos herdeiros de Sammy Davis. Nem passaram um, que fosse, um recibinho.

Obama pode, pode sim. Pode e vai. Basta olhar para os cortes de seus ternos e sorrisos e atentar para sua retórica. Continuam comparando-o a JFK e madame Obama a Jackie (futura O). Sammy Davis, mais uma vez, não poderá comparecer ao baile inaugural.

Quanto à agenda política de Obama, é tão ou mais misteriosa quanto a de seu mentor espiritual JFK. JFK com menos de 6 meses no poder invadiu Cuba e deu início à escalada da Guerra no Vietnã.

Obama, de concreto mesmo, apenas sua declaração recente diante do mais importante lobby judaico americano. Depois das platitudes habituais sobre o Irã, afirmou que "Jerusalém continuará a ser capital indivisa do estado de Israel".

A esse mesmo respeito, nenhum presidente americano manteve essa mesma palavra dada nos últimos 41 anos. E todas as embaixadas, mesmo a americana, estão localizadas em Tel Aviv. Ao que parece, Obama desconhecia o fato, mas trajava um terno de dar inveja ao populacho eleito e eleitoral.

O que mais disse Obama? Disse discursos. Sorriu. Tirou e botou paletós. Sim, ele sabe. Sim, ele pode. Pode, sim.

Uma palavrinha final

A ativista e sufragista americana, Victoria Claflin Woodhull, branca, foi designada pelo Equal Rights Party como candidata à presidência da república dos Estados Unidos da América do Norte em 10 de maio de 1872 e teve sua candidatura ratificada em convenção no dia 6 de junho.

Seu companheiro de chapa, candidato à Vice-Presidência da República? O abolicionista, editor, autor, estadista e reformista Frederick Douglass, um negro.

Não, eles não puderam.

Foram apenas primeirões. Feito Sammy Davis.



Retirado de :http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2008/06/11/obama_ele_pode_sim_1352181.html

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sim, ele "tá podendo"!


E Barack Obama, finalmente, venceu. Quem em 2004 despontava como um "jovem carismático de nome engraçado", é, hoje, o candidato presidencial do Partido Democrata. Numa disputa incerta, ninguém dá certeza na vitória de nenhum candidato no pleito de novembro. Mas mesmo com uma eventual derrota, o senador de Illinois em primeiro mandato Barack Obama já promoveu um verdadeiro turbilhão na política americana, que já marcarão bastante as campanhas e o comportamento de grande parcela da população americana em relação a política por muitos anos.

Primeiro negro com fortes chances presidenciais, Barack cultiva a imagem de "outsider" e se coloca, muitas vezes de maneira um tanto vazia, como o candidato da mudança. Numa leitura mais panorâmica, sua candidatura é fruto de uma séria de fatores de esgotamento.

O primeiro é a grande impopularidade do governo de George W. Bush: sob a égide deste governo, o país se encontra numa guerra despendiosa e sanguinolenta no Iraque, cujos resultados práticos são muito dúbios; uma economia com sinais latentes de recessão, gerando aummento do índice de desemprego e dos juros; uma política tributária considerada injusta, já que durante a Era Bush, houve grande desoneração das classes mais ricas da sociedade; além da permanente ausência de um sistema público de saúde universalista, o que desampara cerca de 15 milhões de americanos. Isto, naturalmente, torna o cenário muito mais propício para a oposição democrata(que, nas últimas dez eleições, foi vitoriosa em apenas três), prova-mor disto foi a conquista da maioria no Senado e na Casa dos Representantes nas eleições legislativas de 2006.

Outra questão é, como o voto nos EUA é optativo, a enorme dificuldade de um candidato tido como tradicional atrair setores que, normalmente, não comparecem em grande número nas eleições: principalmente, jovens e grupos étnicos ainda pouco representados, negros e latinos(este último apresentou um expressivo crescimento nos últimos anos devido ao fenômeno imigratório e não apresenta de forma uniforme um perfil de voto claro). Filho de um queniano de religião muçulmana com uma uma mulher branca do estado do Kansas, nascido e criado pela avó no Hawaii e tendo passado parte da adolescência na Indonésia, Obama, por sua imagem carismática e trajetória de vida incomum, consegue passar sua mensagem de renovação. Por ser negro, conquistou um forte apelo entre os afro-americanos, sem apelar para o que chama de "discurso da vitimização" e/ou "limitar-se ao gueto"(venceu com facilidade nos estados de grande população negra como Carolina do Norte, Geórgia, Alabama etc), por exemplo, conseguindo vitórias nas primárias em estados em que este segmento é demograficamente pouco expressivo(Utah, Iowa, Wyoming, Montana, entre outros). Algo inédito até aqui. Ele próprio define sua candidatura como "pós-racial". O lema da campanha é o universalista "Yes, we can".

Atrelado a isto, pode-se, também, destacar o papel decisivo de sua estratégia de marketing inovadora. Barack Obama soube ganhar força por meio da evolução tecnológica. É a primeira eleição em que a internet vai ter forte peso. A campanha do senador foi a que mais arrecadou fundos, entre os pré-candidatos de todos os partidos. Para isto, valeu-se bastante de doações de simpatizantes via rede mundial de computadores. Também, foram feitos uma série de vídeos para arrebatar o público "digitalizado". Os jovens eleitores de Obama, ainda, utilizaram a Internet para uma maior divulgação extra-oficial do candidato, como na popular gravação "Si, se puede".

Para vencer as eleições, a imagem inovadora do candidato pode não ser o suficiente. Talvez até a chave de sua de sua derrota: segundo o linguista norte-americano Noam Chomsky "o racismo americano vai fazer Barack perder". Independentemente de tudo isto, a "América não se enxergará como antes" e o debate eleitoral de 2008 será tido como um marco.



Otávio Bessa

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Um Brasileirão menos brasileiro



O complexo de vira-lata ainda sobrevive, surpreendentemente, no futebol brasileiro de diversas maneiras. O expoente disto mais bem aceito, compreendido e até, amplamente, apoiado é na natureza excludente do Campeonato Brasileiro de pontos corridos. Trata-se de uma fórmula antagônica a riqueza de nosso futebol.

Os árduos defensores da fórmula logo me chamarão de retrógado, antiquado ou obsoleto. Provavelmente, vão tratar este artigo como o de um defensor de fórmulas mirabolantes, talvez até digam que o que proponho é algo "politiqueiro" e, num exercício de hipérboles e exageros, de que cultuo a velha ordem do futebol brasileiro, cheia de defeitos, incoerências e corrupção. Não é nada disso. Utilizarão o argumentos das organizadíssimos e enormes sucessos comerciais o campeonato de pontos corridos na Alemanha, Inglaterra, Itália ou Espanha, por exemplo, torneios, muitas vezes, secularmente disputados nestes conformes. Tudo bem. Isto é claramente mais uma vez uma forçada transposição de um modelo estrangeiro para a nação tupiniquim. É a colonização cultural travestida de "modernidade". Trata-se de ignorar nossas aspectos geográficos, históricos e culturais ímpares.

É preciso compreender a singularidade de nosso país e a consequente formação do futebol brasileiro. Somos uma nação enorme. Temos uma extensão territorial muito superior a quaisquer nações da Europa. Nossos estados são maiores que diversos países. O futebol brasileiro secularmente se formou a partir dos campeonatos estaduais. Devido a nossa grande população e a popularidade do esporte, possibilitou-se o aparecimento de grandes jogadores em várias regiões do país. Este modelo gerou um grande número de equipes grandes, competitivas e com enorme torcida, além de craques, apesar das diferença sócio-econômica entre as diferentes regiões do país. Enquanto em Portugal, por exemplo, há apenas 3 ou 4 equipes de grande torcida, ou, na Espanha, algumas pesquisas mostrem que aproximadamente um terço dos espanhóis torçam para o Real Madrid e um quarto para o Barcelona, no Brasil, sempre reinou um regime de pluralidade. Isto explica, por exemplo, o grande número de equipes campeães brasileiras: em 36 anos de Campeonato Brasileiro, houve 17 clubes vencedores. Para se ter uma idéia, em 76 edições de campeonato espanhol, só 10 agremiações difentes conquistaram o título, na Itália, foram 106 torneios e, apenas, 14 campeões nacionais. Mesmo o Brasil se trantando de uma realidade econômia pior, é possível fazer uma anologia entre os nacionais europeus e os nossos torneios estaduais.

Um país com dimensões também continentais pode ter, sim, campeonatos nacionais equilibradas baseados num sistema de playoffs, como o caso dos EUA. No país mais rico do mundo, as principais ligas de basquete, beiseball, futebol americano, futebol e até automobilismo(como no caso da popularíssima Nascar) tem jogos decisivos eliminatórios e são ultra-rentáveis. O que refuta o argumento de que o modelo puro e simples de pontos corridos é melhor para os clubes, utilizando apenas os exemplos um tanto inverossímeis do velho continente.

O Campeonato Brasileiro de pontos corridos desvirtua nossa honrosa tradição da diversidade. Diferentemente, do torneio em que existem partidas eliminatórias, fatores como torcida, sorte, fator campo se diluem. Como ele é um torneio mais longo, é necessário um elenco numeroso e, ao mesmo tempo, de qualidade. Tudo isto a primeiro vista pode até parecer positivo; o que, no entanto, se deve inferir é que para isto é necessário, mais do que nunca, um grande poder de contratação e de investimento. E isto subverte nossa riqueza cultural, pois os clubes das regiões mais bem favorecidas, especialmente São Paulo, se tornarão eternas favoritas ao título. É necessáro entender que a renda de um clube se deve preponderantemente a vendas dos direitos de exibição em TV, contratos de patrocínio e vendas de jogadores. Nos dois primeiros aspectos, fica, claro, uma superioridade para equipes de mercados-consumidores mais ricos. Mesmo que as equipes do Nordeste, por exemplo, se organizem, dificilmente serão fortes candidatas ao título brasileiro. Com o tempo, haverá menor diversidade de clubes grandes, alguns clubes se tornarão "tradicionalmente" vencedores, conseguindo, assim, melhor exposição e, consequententemente, melhores contratos de patrocínio e mais torcedores, outros irão apenas disputas posições de meio de tabela e lutar contra o rebaixamento. Isto gera um fenômeno de concentração de torcida e diminuição dos clubes grandes, enfraquecendo o esporte e minando nosso torneio nacional. Tudo isto acaba por gerar um torneio a longo prazo menos atrativo, já que várias regiões do país não serão bem representadas, com clubes menores, é bem possível um ainda maior enfraquecimento dos estaduais e uma diminuição do impacto do futebol em vários estados.

Assim como em quase tudo em nosso país, a solução de problemas do futebol brasileiro não está na cópia de um modelo estrangeiro. Está, sim, numa gestão, acima de tudo, mais transparente e numa política de planejamento integrada e arrojada. Um torneio é rentável porque desperta atração do público e isto pode ser conseguido de diversas formas, ainda mais quando se trata de uma paixão.


Otávio Bessa

sábado, 19 de abril de 2008

AKIRA - NEO-TOKYO está a ponto de explodir!




Se você é viciado em animas, pesquisa está área na Internet, ou mesmo teve aceso ao canal Locomotion quando criança, deve ter ouvido falar desta impactante obra. E é em comemoração aos seus 20 anos e ao lançamento do DVD brasileiro que falarei um pouco deste filme e a razão deste longa-metragem estar entre aos maiores animações já produzidos!

AKIRA, criado pelo genial Katsuhiro Otomo, em sua versão mangá, atingiu altíssimos níveis de popularidade no Japão ao longo de sua publicação, que durou de 1982 a 1990. Foi então que, em 1988, foi lançado o longa animado nos cinemas. A película foi chocante em vários aspectos: houve uma verdadeira revolução na história da animação quadro a quadro, com incríveis sincronização de voz e movimento de lábios, perfeita fluidez dos movimentos e imagens com altíssima definição nos pequenos detalhes. As relativamente altas doses de violência presentes na história também não eram muito comuns nas animações daquela época, além das temáticas bastante adultas que permeiam a narrativa. A influência em demais obras do animê lançadas décadas depois foram inevitáveis, apesar de poucas terem atingido o mesmo nível de excelência deste verdadeiro marco da animação japonesa. Depois de constatada também a popularidade mundial da série, será filmada, para 2009, uma versão live-action hollywoodiana dá série, idéia que, particularmente, não me agrada muito ("Kaneda" americano em uma "New-Manhattan", putz!).



Vamos a um breve resumo:

Estamos situados na cidade de NEO-TOKYO, lugar que foi palco de um misterioso ataque a "bomba" que deu início à Terceira Guerra Mundial, há pouco tempo reconstruída. Nos primeiros minutos ele se mostra como uma metrópole grandiosa, opressora e, particularmente nesse momento, fervilhante, onde uma revolução parece inevitável! O nome AKIRA ecoa de todos os cantos, apesar de ninguém saber realmente do que ele se trata. Então somos apresentados ao personagem principal, Kaneda. Ele é um jovem colegial líder de uma gangue de delinquentes juvenis de posse de motocicletas (sendo a de Kaneda uma das marcas registradas do filme) que promoviam diversas atividades, tais como pilotar de noite pelas ruas da cidade, já tendo feito uso de certas "pílulas estimulantes", a fim de travarem batalhas com outras gangues e se divertirem ilicitamente. Numa dessas aventuras, Tetsuo, melhor amigo de Kaneda, sofre um grave acidente causado por uma criança misteriosa e com aspecto envelhecido. Apartir desse incidente, Tetsuo começa a manifestar estranhos poderes paranormais e passa a ser sondado por uma misteriosa organização militar. Então, observamos a escalada de Tetsuo, de um mero baderneiro adolescente, a uma verdadeira ameaça em escala global! Nesse panorama, apenas uma força tão poderosa quanto ele poderá detê-lo!


É claro que ainda há muitos personagens que não foram citados nesta pequena sinopse. O que realmente é AKIRA você só concluirá após assistir ao filme . E, para isso, não existe uma definição certa, vale a interpretação de cada um. Me lembro de ter ficado tão perplexo quanto quando assisti 2001: Uma Odisséia no Espaço pela primeira vez. Achou a comparação absurda? Assista, e verá !E, para quem gostar mesmo do filme, eu recomendo a leitura do mangá. Ele oferece uma experiência ainda mais integral que o filme, pois a história é mais longa e, em determinado momento, a narrativa toma uma direção totalmente diferente que a do filme (apesar de os finais coincidirem). Basta dizer que, no mangá, AKIRA está vivo!


Duas versões do DVD brasileiro de AKIRA estão em pré-venda prevista para 23/04/2008


"A memória de AKIRA vive em nossos corações!"




Peron Queiroz




sábado, 22 de março de 2008

A demissão de Paulo Henrique Amorim repercute: Mino Carta contra-ataca


A saída de Paulo Henrique Amorim do IG teve uma repercutiu em um nome de peso: Mino Carta. O experiente jornalista ítalo-brasileiro, ex-editor chefe da IstoÉ e da Veja e atual da Carta Capital, anunciou o fim do seu blog no provedor:


"Meu blog no iG acaba com este post. Solidarizo-me com Paulo Henrique Amorim por razões que transcendem a nossa amizade de 41 anos. O abrupto rompimento do contrato que ligava o jornalista ao portal ecoa situações inaceitáveis que tanto Paulo Henrique quanto eu conhecemos de sobejo, de sorte a lhes entender os motivos em um piscar de olhos. Não me permitirei conjecturas em relação ao poder mais alto que se alevanta e exige o afastamento. O leque das possibilidades não é, porém, muito amplo. Basta averiguar quais foram os alvos das críticas negativas de Paulo Henrique neste tempo de Conversa Afiada." Mino Carta


Neste derradeiro post, há uma clara insinuação a motivos maiores, questões políticas: enfim, muito mais do que uma mudança da "política comercial" da polêmica empresa. Vamos esperar mais notícias.




Otávio Bessa


A China e os ovos da Páscoa


Para compesarmos o atraso nas postagens, resolvemos publicar alguns textos interessantes oriundos de outros sites. Esta postagem se trata de um belo panorama de Alberto Dines sobre a hipocrisia ocidental em relação ao Tibete, além da gangorra em que a economia se encontra.

Egípcios e romanos celebravam a vida através do culto aos ovos, mas a tradição começou muito antes na China, quando na Festa da Primavera (do hemisfério Norte) ovos pintados e cozidos em ervas eram oferecidos aos amigos com votos de renovação da vida. Além dos ovos da Páscoa, muita coisa originou-se na China, inclusive a pólvora e os fogos de artifício.

Também a crise das commodities que nestes dias ocupa o lugar de honra no noticiário. Os analistas esmeram-se na explicação sobre desenlaces recentes (o desabamento na última quarta-feira do preço das matérias-primas) e, geralmente, negligenciam as análises sobre seus antecedentes. Não é de bom-tom remontar à gênese das bolhas porque ninguém gosta de penitenciar-se em público.

A verdade é que o desmoronamento de 19 de Março é conseqüência direta do pico de 4 de Março quando as commodities atingiram preços astronômicos e ninguém acionou os alarmes. Este pico tem a ver com o movimento defensivo em seguida à crise hipotecária americana: para compensar perdas e garantir retornos, os investidores apostaram em commodities valorizadas nos últimos anos em padrões alucinados.

Quem está com o pé no acelerador é o dragão da economia global, a China. O país abriga um quinto da humanidade, mas consome metade do cimento, um terço do aço e um quarto do alumínio produzidos no mundo. Comparada com a de 1999, a importação chinesa de soja subiu 35 vezes e a de cobre, 23 vezes (dados da “Economist”, 15/3).
Além do desastre ecológico provocado por uma indústria sem tradição de qualidade e um governo absolutamente desatento aos mais comezinhos princípios de respeito à Natureza, a fome pelas commodies colocou sua política externa a serviço das piores ditaduras da África e Ásia.

O celebrado pragmatismo chinês ajudou emergentes como o Brasil a reequilibrar sua economia, mas foi responsável igualmente pela paralisia mundial que manteve o holocausto em Darfur e a sanguinária repressão em Myanmar.
Ao contrário das arrogâncias exibidas por Hitler, Mussolini, Stalin e Bush, a fórmula chinesa é branda, maneirosa. Abolido o culto da personalidade, funciona em seu lugar uma máquina burocrática impessoal, contínua e não menos brutal.

O Tibete é a dolorosa vitrine de uma duplicidade onde se combinam o formidável esforço para tirar centenas de milhões de seres humanos da miséria absoluta e a implacável repressão política contra aqueles que desejam expressar suas opiniões. A cinco meses das Olimpíadas, a famosa paciência chinesa mostrou suas limitações e precariedade.
Depois de negar teimosamente o uso da força, o governo pequinês finalmente admitiu nesta sexta-feira que suas tropas atiraram contra os rebeldes tibetanos no exato momento em que Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Representantes americana, depois de reunir-se com o Dalai Lama em seu exílio indiano, colocou a boca no trombone contrariando o cinismo da Casa Branca.

O drama tibetano que se arrasta desde 1950 (quando a república proclamada em 1911 foi anexada pelo revolucionário Mao Tsedong) torna-se mais pungente diante da desfaçatez globalizada. As esquerdas e seus movimentos de direitos humanos estão silenciosos – afinal o país ainda é formalmente comunista, coberto de vermelho e estrelas amarelas. O mundo empresarial que nunca se impressionou com totens e tabus só pensa naquilo: crescimento acelerado para manter a alternância dos círculos virtuosos e viciosos.

No rol dos inventos chineses, imperioso acrescentar a atual epidemia mundial de hipocrisia.


(Texto retirado de http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/alberto_dines/2008/03/21/a_china_e_os_ovos_da_pascoa_1238661.html)

sexta-feira, 21 de março de 2008

Paulo Henrique Amorim e sua saída do IG(não do PIG)


"Olá! Tudo bem?"


O Porta IG anunciou na última terça-feira a recisão contratual do jornalista Paulo Henrique Amorim. O provedor hospedava o polêmico site Conversa Afiada, que já está fora do ar. O jornalista, por meio de um recurso judicial, recolheu seus pertences e o arquivo do site.




Até aí, aparentemente, tudo normal. A grande questão são os reais motivos por esta verdadeira demissão. Amorim, apesar de eventuais críticas ao PT e ao governo Lula, é tido com um árduo defensor da situação e da "esquerda". É um árduo crítico da grande mídia(apelidada por ele de PIG: Partido da Imprensa Golpista), principalmente da revista Veja, dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo e da rede Globo. No Conversa Afiada, inclusive, criou o IVDL(Índice Vamos Derrubar Lula), como forma de satirização a aparente parcialidade midiática.




Para entendermos todo o imbróglio, é importante contextualizar o IG. O portal, pioneiramente o primeiro provedor de internet grátis do Brasil, teve seu controle acionário assumido pela Brasil Telecom em 2004. O valor desta negociação foi de 132.741.582 dólares( a empresa passou de 9,5% para 88,7% sua participação no provedor). Tratou-se de uma transação no mínimo curiosa. Na época, a consultoria britânica Theaters & Greenwood avaliou o IG em somente 54 milhões de dólares. Já os antigos donos do provedor, declararam que a empresa valeria 140 milhões de dólares. Tudo isto é, aparentemente, estranho. A grande questão é que a Brasil Telecom até 2003 era controlada pelo Banco Opportunity(sim, dele mesmo: o controverso Daniel Dantas) e passou ter forte participação acionária da Previ, o fundo de pensão dos funcionário do Banco do Brasil, o que para muitos críticos(leia-se Diogo Mainardi) seria um forte indício de possíveis intervenções estatais. Com a mudança de dono, houve grandes guinadas editoriais.


O provedor passou, então, a contratar grande grifes do jornalismo especialmente "simpáticos ao governo Lula"(pelo menos muito mais do que o dito PIG) como Mino Carta, Paulo Henrique Amorim e Franklin Martins(este até se tornou ministro-chefe da Secretário de Comunicação Social). Estes nomes, segundo o discutibilíssimo Diogo Mainardi, receberiam salários maiores do que o valor de mercado.. Além disto, foram, também, contratos nomes assumidamente governistas para escrever em blogs no provedor, como o ex-presidente da União Nacional dos Estudantes Gustavo Petta e o jornalista Luis Favre, marido da ex-prefeita de São Paulo e ministra do Turismo Marta Suplicy.


Independentemente de qualquer juízo de valor, é natural que o episódio em questão se deva a muito mais do que "custos do contrato e condições de mercado" como escreveu Caio Túlio Costa, Diretor Presidente do IG, em editorial. A ação judicial de Amorim é um claro sinal de uma motivação mais profunda. Chapa-branca ou não, Paulo Henrique tinha uma site diferenciado, em que, realmente, tratava os assuntos de uma maneira diferenciada do que a grande mídia: por enquanto, perde muito o jornalismo.


"Boa noite e boa sorte."



Otávio Bessa



(Obs: estamos de volta!)

segunda-feira, 3 de março de 2008

A hora e a vez de Hillary Clinton

Ainda numa linha "1984", este vídeo foi criado por fervorosos fãs jovens do senador de Barack Obama. Trata-se de uma paródia muito bem feita do comercial da Apple de lançamento do Macintosh. No fundo, em ambos momentos, há um forte apelo pela ruputra. Hillary, bem ou mal, é o estabilishment, assim como os "piratas da IBM".


Otávio Bessa

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

2008 será como 1984?



Esta genial propaganda televisiva é considereda por muitos especialistas como a melhor de toda a história. Era início de 1984, o mundo vivia o prelúdio da revolução digital e, realmente, naquele momento, as visões do não menos genial George Orwell em seu clássico livro homônimo a este determinado ano não haviam sido confirmadas. A Apple, nos seus áureos tempos com Steve Jobs(uma figura tão ímpar que transformou para sempre a computação do estigma nerd para uma órbita cool) no comando, anunciava ao mundo o ousado Macintosh. Pela primeira vez, uma máquina com design arrojado e elegante para o uso pessoal, além é claro de apresentar uma agradabilíssima interface gráfica para seu sistema operacional. Este lançamento especialíssimo teve sua campanha publicitária comandada pelo legendário Jay Chiat. O vídeo em questão foi exibido comercialmente, apenas, uma única vez: no intervalo da final da liga nacional de futebol americano, o Super Bowl(o intervalo mais caro da televisão em todo o mundo). Ele ganhou diversos prêmios, é tido como um grande paradigma na propaganda até hoje e foi dirigido pelo Sir Ridley Scott(sim, aquele mesmo de "Blade Runner" e "Gladiador").


É sempre bom revê-lo, apesar de sua intenção óbvia unicamente mercadológica, nos leva sempre a boas reflexões a respeito de nossas posturas e escolhas. O que é sempre saudável em tempos que se discute o que é liberdade, ainda mais com o "mitológico" Fidel Castro novamente "em voga"! Assistam, navegadores!


Otávio Bessa


Obs: Que 2008 não seja como 1984!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

A Fidelidade em cheque- Parte I


Em 1954, Fidel era julgado pela invasão mal-sucedida do quartel de Montágua em Santiago de Cuba. Em seu discurso de defesa, declarou em tom profético: "a História me absolverá".Hoje, em 2008, a grande pergunta é se a História realmente o irá absolver.


Digo que, num país onde todos tem acesso a saúde pública de qualidade, com a menor taxa de analfabetismo das Américas(sim, menor até mesmo do que de EUA e Canadá) e que todos tem oportunidades à prática esportiva, há, possivelmente, muito mais democracia(poder e participação popular, igualdade de condições e oportunidades) do que numa nação semi-escravista como o Brasil do século XIX, XX ou XXI. Cuba com uma população menor que o estado da Bahia é, por exemplo, a maior potência olímpica do continente americano, com 170 medalhas, todas elas conquistadas a partir dos Jogos Olímpicos de Munique(Fidel entrou no poder em 1959).


Esta inferência, no entanto, realmente não parece tão clara para todos. Os prismas sobre a ilha caribenha sempre foram, excessivamente, viciosos e passionais. Os dados sobre desrespeitos dos direitos humanos, por exemplo, são muito questionáveis. Cuba sempre foi um agente de polarização. Era "satanizada" pelos regimes militares e havia um grande medo de que aquilo se tornasse um modelo para toda América Latina, sem dúvida, foi uma das principais causas para o apoio estadunidense aos vários e violentos golpes de Estado na região. Os exilados brasileiros voltaram dizendo maravilhas da Revolução Cubana e dos avanços no país, angariando forte simpatia deste governo em setores tupiniquins. Bem ou mal, há, segundo a Anistia Internacional, hoje em Cuba 250 "presidiários por consciência", dentre os quais 38 por críticas explícitas ao governo. Em 2005, um grande admirador do regime cubano rompeu com Fidel: José de Saramago declarou-se decepecionado pelo fuzilamento sumário de três homens que sequestraram uma balsa par fugir para a Flórida. Em contraste a isto, o que não se divulga, também, é a constante tortura de imigrantes cubanos ilegais que se envolvem com crimes nos subúrbios de Miami. São comumente torturados e sofrem duros castigos físicos, isto é oriundo da ausência de uma relação diplomática entre seu pai e o Tio Sam, não tendo, assim, mecanismos para recorrer e buscar uma proteção nas terra ianques


Sem julgamentos precipitados do mitológico comandante, please. O fato é que o revolucionário Fidel ainda tem ampla aceitação e apoio do povo cubano. Não confundam a liberdade de Cuba com Cuba Libre. Coca-Cola, mesmo que com o run local, não é sinônimo de livre expressão, nem mesmo de "livre-iniciativa".



Otávio Bessa



Obs: este assunto é grande. Prometo uma análise mais minuciosa dos 49 anos de castrismo no poder depois.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

A vingança nunca foi tão retratada no cinema como nesta década. Filmes com essa temática tem tido produções diversas, como ‘Kill Bill’, do diretor americano e badalado Quentin Tarantino, até ‘Oldboy’, do diretor coreano Chan-wook Park. São filmes de culturas diferentes, que enriquecem a análise de atitudes humanas tão complexas como a vingança. Esses filmes, apesar de riquíssimos, têm entrado num processo de saturação devido à falta de novidades, da mesmice dos roteiros. Tim Burton, porém, deu um novo fôlego pra essa temática com seu lançamento ’Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet ‘. Ele constrói um filme do gênero repleto de aspectos sombrios e góticos, próprios do diretor americano, porém com um diferencial, algo realmente atraente. A presença de músicas, muitas músicas, faz desse filme uma bela obra, baseada na peça de Stephen Sondheim e Hugh Wheeler para um musical da Broadway.

A história é ambientada em uma Londres sombria, suja, habitadas por seres desprezíveis, o que inclui, naturalmente, os humanos. A grande massa miserável e oprimida pelos processos industriais, pelas autoridades e pela burocracia tenta sobreviver; os opressores, apesar de possuírem o capital, continuam imundos e cínicos. É pra este contexto social que retorna, depois de 15 anos, Benjamin Barker (o sempre competente e carismático Johnny Deep), um barbeiro que foi preso injustamente por um juiz aproveitador, interpretado por Alan Hickman que, interessado pela sua esposa Lucy (Laura Michelle Kelly), extradita Benjamin. Quando retorna para a sua cidade, ele descobre, por intermédio da sra. Lovett (Helena Boham Carter), que a sua mulher cometera suicídio e sua filha Johanna fora adotada pelo seu maior inimigo, o juiz Turpin.

Só uma coisa é objetivada por Benjamin Barker a partir de então: vingança. Um desejo insaciável toma conta do seu corpo aos poucos, deixando-o cada vez mais frio e infeliz. Ele cria, então, um plano, uma espécie de parceria macabra com a sra. Lovett: ela cede o andar de cima de sua loja de tortas para que ele exerça sua profissão de barbeiro,com o pseudônimo de Sweeney Todd, matando os clientes como se mata animais, para que eles sirvam como uma espécie de tempero para suas tortas, apelidadas carinhosamente como “ as piores tortas de Londres”.

Paralelamente a isso, uma história de romance é contada. Ela envolve dois jovens, o marinheiro Anthony Hope (o promissor Jamie Campbell Bower), que havia conhecido Benjamin na sua volta marítima e Johanna (Jayne Wisener), desejada pelo juiz Turpin, que deseja casar com a bela, utilizando dos meios mais violentos pra espantar o rapaz das redondezas.

’Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet ‘ conduz a história muito bem, apesar de se repetir em determinados momentos, com músicas parecidas, mas muito bem compostas. A fotografia é impecável, com tons fortes, que destacam o vermelho do sangue, que aparece muitas vezes à medida que o filme caminha pro seu clímax. Além disso, as atuações dos protagonistas e dos coadjuvantes se completam, criando personagens complexos e carismáticos ao mesmo tempo, como o também barbeiro Signor Pirelli, interpretado por Sacha Baron Cohen, mais conhecido por ter protagonizado o satírico ‘Borat’, que com um papel curto consegue instigar o público.

O final reserva algumas surpresas, além de uma cena final poética e violenta. Para que se chegue até ela, o espectador que não tem certa simpatia por musicais, provavelmente irá se sentir cansado devido ao grande número de músicas. Porém, o longa merece ser visto, principalmente pela bela direção do grande diretor Tim Burton, que transforma o feio no belo, o gótico no poético e consegue absorver o máximo dos atores, com uma concepção visual que é um verdadeiro deleite para os espectadores.

Alexandre Rios.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Outra vez a Velha Infância


Cada vez que vejo o meu irmão mais novo assistir, com empolgação inerente a uma criança de sete anos, a episódios de desenho animado na TV, fico a me lembrar dos meus tempos de criança, quando fazia a mesmíssima coisa.

Enquanto, juntamente com ele, acompanhava a um desenho intitulado “As Tartarugas Mutantes Ninja” fui aos poucos me lembrando desse mesmo cartum, só que transmutado para a década de 90, quando se chamava apenas “As Tartarugas Ninja”. Recordei-me imediatamente do jargão próprio daqueles indivíduos, o famoso “Santa Tartaruga!” e esperei ansiosamente pelo momento em que eles diriam novamente aquela frase que eu tinha certeza que me traria de volta aos meus tempos de alfabetização, primeira série. Tamanha foi a minha decepção quando Rafael (a tartaruga mais extrovertida dentre as quatro da série) exclamou: Santa Pizza!

Todos nós sabemos que a reedição e reformulação de algumas séries antigas como a já supracitada Tartarugas Ninja além de outras de super-herói como He-Man e Homem Aranha é comum nos dias de hoje. A história acaba sendo a mesma, porém a abordagem é um pouco diferenciada, em conexão com os acontecimentos, modos de vida e tecnologias atuais. Mesmo assim, confesso que ao ouvir aquilo senti uma grande tristeza.
Já que aquele desenho havia ultrapassado a barreira temporal, resolvi perguntar ao meu pequeno irmão se ele já havia ouvido falar, ou até mesmo assistido, a saudosos desenhos de minha época. Perguntei-lhe primeiramente sobre o Capitão Planeta, glorioso herói que era convidado a combater em prol do Meio Ambiente cada vez que cinco garotos, os chamados “Protetores”, combinavam elementos da natureza (Terra, Fogo, Vento, Água e Coração) através de anéis de poder. Para meio espanto ele nunca tinha ouvido falar.

Depois indaguei sobre outro de meus tempos, o Perdido Nas Estrelas, desenho o qual um garoto possuía uma luva de beisebol que realizava desejos. Era somente ele subir em sua casa na árvore (nesse tempo todo mundo queria ter uma), calçar a sua luva e bater com o outro punho nela dizendo: “Eu desejo ser rico, eu desejo ser rico, eu desejo ser rico” imediatamente o desejo se realizava e terminava ao prazo de um dia. A resposta dele foi negativa, novamente.

Nesse momento resolvi apelar. Perguntei sobre o “Caverna do Dragão” desenho que inclusive ainda passa, às vezes, na Rede Globo de TV. “Às vezes” foi também o que ele me respondeu.

Não era possível que ele não apreciava nenhum espetáculo animado que tanto mobilizou a minha infância. Tentei o Corrida Maluca, o Animaniacs, Jiraya (este me custou algumas surras, pois ao lutar contra o vento imitando o personagem, cheguei a quebrar alguns pertences de minha mãe), Jaspion, Capitão Caverna, De volta Para o Futuro (nesse, ao fim de cada episódio o professor ensinava alguma experiência. Passei um ano de minha vida querendo ser cientista.), Doug Funny, Gato Félix, Caça-Fantasmas, Fievel - Um conto Americano, Gasparzinho, Thundercats, Inspetor Bugiganga, Johnny Quest, Pink e Cérebro, Ligeirinho, Manda-Chuva e seus amigos, o Máscara, Fantástico Mundo de Bob, Ursinhos Carinhosos, Riquinho, Zé Colméia, Tico e Teco e... Nada! Não conhecia quase nenhum!

Depois dessa infeliz constatação, fico a me perguntar o que mais, além das mudanças tecnológicas e de visão de mundo, fez grandes obras animadas se esfacelarem com o passar dos anos. Será que a inocência contida naquelas obras não é mais compatível com os novos ares da sociedade? Será que ideais de vida condizentes com o tão saudado “Carpe Diem” dos desenhos animados antigos não mais entoam com o sentimento de tensão e frustração que as novas crianças são expostas diariamente nos meios sociais? Por que será que apenas desenhos que instigam a luta e a competição, como Cavaleiros do Zodíaco e Pokemom, foram preservados e levados de volta a programas matinais infantis? Será que essa preservação foi premeditada ou é só mais uma mera coincidência? É claro que generalizar é um ato indecoroso. Ainda existem desenhos antigos que estão no gosto dos meninos mais novos, como Mickey e Pernalonga, por força da marca, talvez. Mesmo assim esta é, sem dúvida, uma parcela muito pequena dentre a infinidade de obras que existiram e encantaram outrora.

Reflexões a parte, resolvi mostrá-lo esses desenhos antigos na internet (mostrá-lo, não. Na verdade quem queria realmente ver era eu. Para ele, acho que pouco importaria. Mesmo assim ele aprovou a idéia) e passamos (ou seria passei?) horas tendo mais ou menos a mesma idade: sete anos.

Felipe Vega

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A universidade é espaço para mediocridades?


Diante de preocupações próprias ou futilidades cotidianas, as pessoas acabam desviando suas atenções de práticas corriqueiras nocivas à sociedade. Realizações essas que se tornaram banais e que oferecem tantos perigos quanto semelhantes atos violentos ao redor do mundo. Esse é o caso do “trote”: conjunto de atividades, leves e/ou graves, que servem simbólica e historicamente como concretização da entrada do “calouro” à instituição. Você achou isso sensacionalista? É porque não conhece a verdadeira identidade dele...
O “trote estudantil” consiste no ritual mundial em que os “calouros”, estudantes recém-aprovados à inserção em cursos de graduação, são recepcionados pelos “veteranos” através das mais diversas atividades. A grande problemática encontra-se nessas “atividades”: os veteranos munem-se de atos bárbaros variados, desde a ovação propriamente dita à provocação de embriaguez, entre outros. Para uma análise menos superficial, é melhor, portanto, exemplificar tais atividades.
Comecemos pelas mais leves – embora sua classificação em “leve”, “moderado” ou “grave” dependa da concepção individual: utilização da raspagem de cabelo, da pintura corporal e outros artifícios não muito conhecidos, tais como:
- “Cotonete”*: o calouro tem até as próprias orelhas pintadas, seja por ter sido forçado a fazê-lo ou pelos dedos de algum veterano. Pode danificar o ouvido; todavia, no máximo, deixa a orelha do calouro com a(s) cor(es) da tinta por alguns dias;
- “Fila”*: os calouros são amarrados uns aos outros com cadarços de tênis - obviamente retirados dos tênis dos calouros. Formam uma fila indiana e são levados a um lugar conveniente aos veteranos, ou separados para a prática de outras atividades, tais como o pedágio;
- “Elefantinho”*: Similar à fila, mas os calouros devem dar-se as mãos (passando os braços por entre as pernas) ao invés de serem amarrados;
- “Gritar pelo tatu”*: Nessa prática, muito comum, os veteranos obrigam o “bixo” a se dirigir ao meio do pátio da instituição em um momento no qual seja relativamente grande a presença de pessoas e erguer alguma tampa de bueiro, boca-de-lobo, ou similar, e gritar incansavemente pelo tatu, o qual é um animal selvagem, e que, com certeza, não compreende nenhum tipo de dialeto falado pelo homem. Como conseqüência o calouro ficará gritando por horas, e, como o tatu não irá aparecer, os veteranos não ficarão satisfeitos, fazendo com que o calouro seja obrigado a pagar umas brejas para os veteranos envolvidos no ato;
- “Assustar o lixeiro”*: Prática que consiste no ato do calouro, previamente escolhido rigorosamente pelo grupo de veteranos se aproximar de um lixeiro qualquer, de preferência em uma área onde seja numerosa a presença de pessoas, e gritar incansavelmente para assustar o lixeiro. O calouro só irá parar quando o grupo de veteranos determinar que realmente o lixeiro se abalou emocionalmente e se moveu;
- “Manchar o currículo”*: Aqui, o veterano passa tinta com pincel ou o próprio dedo na parte glútea ou na região popularmente conhecida como cofrinho dos calouros.
Essas atitudes já transparecem uma falta de respeito física e moral com o ser humano, mas, vejam só!, são apenas as “leves”!
Logo após vêm as “moderadas”:
- “Mergulho”*: os calouros devem se molhar completamente entrando em piscinas, fontes, etc.;
- “Pedágio”*: os calouros devem pedir dinheiro nos sinais aos motoristas para reunir uma quantia que permita aos veteranos tomar bebidas alcoólicas, sendo supervisionados por estes, que só os liberam quando já se reuniu dinheiro suficiente;
- “Animação da viagem”*: nessa prática, possível somente com calouros e veteranos que se deslocam até a instituição através de ônibus ou veículo similar, os “bixos” devem se dirigir às janelas do veículo e no momento em que estiverem passando por uma aglomeração de pessoas, gritem frases humilhantes no intuito de chamar a atenção para si;
- “Cuspe ao vento”*: quando o onibus que transporta os veteranos e calouros estiver em velocidade adequada (50-100 Km/h), um veterano deve armazenar grande quantidade de saliva em sua boca. Após, um calouro deve ir a uma janela ao fundo do onibus, enquanto o(s) veterano(s), em uma janela a frente a do calouro, cospem em direção à sua boca. O calouro que conseguir ingerir TODA a saliva expelida pelo veterano, estará livre dos trotes seguintes;
- “Suspensão”*: praticada normalmente apenas contra calouros do sexo masculino. Geralmente dada como punição por não cumprimento de determinações dos veteranos. Um veterano forte fica atrás do bixo e lhe aplica um cuecão ou puxa a sua calça ou bermuda para cima a ponto de suspendê-lo por completo.
Só ao ver essas não precisaria nem citar as ditas “graves”, pois elas explicitam toda a mediocridade desse ritual deplorável. Para melhor argumentação, porém, é necessária a lista das “graves”, as quais são:
- “Agressão”*: é a reação a algum calouro que se recuse a se submeter à vontade dos veteranos, que podem "marcá-lo" e tornar sua vida naquela instituição um inferno;
- “Provocação de embriaguez”*: são feitos concursos ou simplesmente força-se o calouro a ingerir bebidas alcoólicas (cerveja, cachaça, vinho, etc.) o quanto puder, ou até o vômito;
- “Mastiguinha”*: força-se o calouro a ingerir comida previamente mastigada por um veterano;
- “Reforço”*: o calouro é forçado a ingerir uma mistura indigesta de ovo, farinha crua, maionese, mostarda, vinagre e até papéis;
- “Chispada”*: o calouro deve correr nu em público, o que pode levá-lo detido à delegacia para prestar esclarecimentos;
- “Vômito congelado”*: os veteranos armazenam vômitos congelados e depois forçam os calouros a ingeri-los;
- “Pastinha”*: o calouro deve passar pasta de dente no pênis e se masturbar na frente dos veteranos;
- “Rolo compressor”*: o calouro deve rolar nu sobre vários outros calouros, igualmente nus.
OBS.: Ressalta-se um detalhe importante: as práticas supra-citadas NÃO OCORREM EM TODOS os estabelecimentos de gradução: muitas instituições permitem a realização do “trote estudantil” sob vigilância de seguranças e dentro de muitas restrições, já outras PROIBEM o acometimento desse ritual ou realizam o “trote solidário”, que será melhor explanado a frente.

Todas esses atos ignóbeis supra-citados permitem refletir sobre um aspecto: a universidade, berço do conhecimento, é espaço para a concretização de tamanha mediocridade e barbárie? O universitário não tem maturidade suficiente pra compreender que “o corpo é um templo” (by Alex Valadares) e que existem limites para uma brincadeira? Bem, você entendeu minha mensagem, não vou mais alongar tanto esse texto...

Porque o “trote” não se torna ilegal?
Tal ritual envolve uma relação de poder implícita. Ou seja, o “bixo” submete-se a todas essas ações primitivas para um dia tornar-se o “veterano” e poder, portanto, massacrar, desrespeitar e descontar o que sofreu. A problemática consiste, contudo, na contribuição, mesmo que acidental, no aumento da violência, pois a revidação torna-se gradativamente mais violenta, causando lesões graves ou até mesmo mortes, como o famoso caso de Edison Tsung Chi Hsueh, calouro da Faculdade de Medicina da USP, morto afogado por não saber nadar em um trote estudantil em 1999.
Devido às inúmeras consequências, muitas soluções foram expostas para o fim ou a melhora dessa atividade ritualística. Um exemplo é o “trote solidário”, o qual contempla a realização de atividades sociais como a doação de sangue, de comida etc. Essa opção é excelente, além de ser, sobretudo, conscientizadora. Mais interessante ainda seria a realização de festas de integração dos alunos à faculdade em conjunto com uma exposição de trabalhos internos. O aluno, portanto, estaria mais interessado em ir à faculdade, ao invés de querer faltar as primeiras semanas para não sofrer o trote.
José Venas

* Os termos e suas definições foram tirados da Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Trote_estudantil).

sábado, 16 de fevereiro de 2008

E (não)é mais uma vez na América


Faltando pouco menos de 9 meses para as eleições presidenciais norte-americanas, o mundo já se questiona quais os possíveis caminhos que a maior potência mundial pode vir a seguir.

Durante os oito anos do governo de George W. Bush, o mundo assistiu a uma ascensão do neocorsevadorismo, uma insólida aliaça entre a direita religiosa mais insuflada e os setores mais elitizados do país, construída a partir de um contraditório discurso do medo. Segundo esta corrente, o Estado não deve intervir na economia, ao mesmo tempo, deve ser preponderantemente invasivo nas questões comportamentais, como a proibição do aborto e da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Este modelo, contudo, foi bastante desgastado. A Era Bush deixa como legado uma economia desacelarada, o aumento do número de desempregados, o corte de impostos para as camadas mais ricas, a ausência de uma política resolutória para a questão da imigração, uma mal-sucedida invasão militar no Iraque, motivada vale ressaltar, por argumentos questionabilíssimos, e uma das piores imagens do país no exterior em toda história.

Tudo isto contribuiu para um acentuado declínio do seu partido, os republicanos, com as vitórias dos candidatos do Partido Democrata em 2005, que levaram a uma maioria oposicionista na Casa dos Representantes e no Senado. É natural, consequentemente, o favoritismo dos candidatos democratas sobre os do GOP(como os militantes republicanos chamam sua agremiação).

Nenhum pré-candidato republicano procura se intitular "legítimo herdeiro da Era Bush", Rudolph Giuliani tem uma postura bastante liberal em relação a comportamento, Ron Paul adota uma postura excessivamente libertária, de não-intervencionista, contra subsídios e ações militares, o pastor batista Mike Huckabee folcloricamente abraça a direita religiosa tradicional e Mitt Romney comumente se diz inspirado pelo conservadorismo de outro ícone americano: Ronald Reagn. Após a desistência dos candidatos mais competitivos, John McCain francamente desponta como favorito. Este experiente senador de 72 anos do Arizona, contudo, sofre pela rejeição de setores mais conservadores do partido pela sua postura de tolerância e apoio a legalização dos imigrantes, sendo taxado até de "pouco conservador". Num país onde o voto não é obrigatório, a ausência do eleitorado evangélico, por exemplo, pode fazer toda a diferença. E, neste clima de questionamentos existenciais, o partido que governou 24 dos últimos 32 anos da história americana entra, agora, na defensiva.

Já no Partido Democrata, a peleja é muito mais acirrada e entusiasmante. Após muitas prévias e a desistência de interessantes figuras como o hispânico governador do Novo México e ex-secretário de Energia Bill Richardson e do ex-senador de "retórica paternalista" John Edwards, consolidam-se as mais fascinantes e magnéticas opções: a senadora de Nova York e ex-primeira-dama Hillary Clinton e o senador de Illinois Barack Obama. É a inédita consistente chance de uma mulher ou um negro ocupar a Casa Branca e, sob muitos prismas, o cargo mais importante do mundo.

A primeira candidata se utiliza principalmente de sua experiência administrativa na última gestão democrata no nível federal, de sua maior trajetória no Senado americano e do prestígio e popularidade do seu marido, o ex-presidente Bill Clinton. Hillary é formada em Yale, a melhor e mais concorrida escola de Direito do país, na década de 1980 foi considerada top-10 entre os advogados americanos mesmo atuando na provinciana Little Rock, capital do secundário estado do Arkansas e é uma das cabeças mais atuantes e influentes do parlamento. Embora tenha todo este currículo, seus críticos justamente a acusam de não ser uma candidata tão "self-made woman", justamente pela sua imagem estar tão atrelada ao esposo. Inicialmente, chegou a liderar com folga as pesquisas nacionais por ser uma das figuras mais conhecidas da nação e logo atrair atenção de jornais e talk-shows. Com o início das prévias e, por isto, a maior exposição de seu principal adversário, Barack Obama, a Clinton da vez perdeu terreno: parte do eleitorado negro, que tendia a ela inicialmente, por exemplo, migrou e houve derrotas que, inicialmente, não eram tão esperadas, como nas primárias de Iowa e South Caroline. Hillary, basicamente, venceu na maioria dos estados tradicionalmente democratas como New York, New Jersey, California e Massachusetts, o que não é, necessariamente, um indicador muito bom: são locais em que um candidato democrata, seja ele qual for, deve vencer com relativa facilidade em novembro. É mais atrativa entre os pobres, mulheres e eleitores de origem latina. Até esta grande vantagem nestas fatias, porém, na qual é hegemônica já demonstra sinais de diminuição gradual. Tudo isto levou a um marketing de campanha cada dia mais agressivo. Bate, insistentemente, na tecla de que é uma candidatura mais consistente, tem um melhor e mais claro plano de governo, procura, assim, dar um mais pragmático a campanha, em contraste com o "carisma superficial" de Obama.

No outro lado, temos um roteiro hollywoodiano ambulante, uma versão africanizada de John Kennedy. Com todas as críticas possíveis a Barack Obama, é inegável sua ascensão na política estadunidense. Nascido em Honolu(sim, aquela cidade-paraíso dos surfistas localizada no simpático arquipélago do Hawaii), é filho de mulher branca do meio-oeste americano, mais precisamente do estado do Kansas(tamanho o conservadorismo por lá que é proibido se ensinar nas escolas o ideário evolucionista de Charles Darwin), e de um queniano de formação muçulmana(um detalhe curioso desta parte da família é que o nome do meio do pré-candidato é, nada mais, nado menos, do que Hussein). Viveu a infância e parte da adolescência na Indonésia, depois retornando ao Hawaii para concluir os estudos na casa de sua avó, branca. Está longe de ser, portanto, um clássico exemplo de afro-americano. Graduou-se, então, em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade de Columbia e depois formou-se em Direito pela prestigiosa Harvard. Casou-se com a também negra Michelle Robinson, sua colega do curso no último curso, e escolheu morar num subúrbio de afrodescendentes em Chicago. Lá dedicou-se, basicamente, a defender causas das pessoas mais pobres e à ação social. Em 1996, elegeu-se senador estadual e, depois de uma fracassada candidatura a Casa dos Representantes em 2000, elegeu-se, surpreendentemente, senador em 2004, derrotando Alan Keys, uma das mais importantes lideranças negras do Partido Republicano, ex-secretário do governo Reagan e atual embaixador dos EUA na Organização das Nações Unidas(ONU). Em 2006, resolveu lançar-se a presidência. Entre todos os aspirantes até agora, é o mais novo, tem apenas 46 anos. Cultiva a idéia de que é um "outsider" da política, alguém avesso às viciadas regras do estabilishment. Foge do discurso racial, segundo ele, "não faz política baseado na vitimização" e "enxerga todos os americanos como americanos", o que é, possivelmente, um sinal de maturidade. Utilizando-se de um enorme carisma messiânico, de um fenomenal apelo e de uma retórica sobre "mudanda real", "esperança" e "união", viu nascer uma verdadeira "obamamania". É, disparadamente, o candidato mais mobilizador entre os jovens e as celebridades de Hollywooed. Após receber apoio da popularíssima apresentadora Oprah Winfrey e do líder do movimento negro americano Jesse Jackson, este último, um exponencial aliado de Bill Clinton, viu sua candidatura crescer muito entre os negros. É, também, o favorito entre os mais ricos. Quanto mais nebulosa é o resultado derradeiro dos democratas, mais forte se torna, pois fica, assim, gradativamente mais conhecido. Obama é mais forte também nos estados tradicionalmente republicanos e onde há uma disputa mais acirrada entre os dois partidos, o que é fundamental num ano de desunião interna dos rivais. Os oponentes, entretanto, o acusam de ser um candidato raso, com um discurso cheio de frases de efeito e poucas propostas efetivas, além de acusações de inexperiência e até ingenuidade. Capitaliza-se, todavia, porque, ao contrário de Hillary, foi, terminantemente, contra a invasão do Iraque(um denominador comum dos democratas) deste o início, por exemplo. Dentre suas principais propostas, destacam-se medidas de prevenção ao meio ambiente, uma política externa de tom conciliatório e um maior fechamento das barreiras alfandegárias para evitar a "exportação de empregos". Tudo isto, ainda é pouco. Ele, contudo, parece não se importar, quer continuar sendo o "novo" e isto, aparentemente, já lhe basta.


Nos últimos debates, em especial o realizado em Los Angeles na California, o que se viu foi um tom mais amistoso, porém duas posturas bem distintas. Enquanto Hillary falava de "health care" e "imigration", Obama parecia não se importar com a variedade dos questionamentos: suas frases eram sempre repletas de simpáticos "hopeless", "changement" e "work", fora todos os seus encantadores bordões. O mais incrível de tudo é que "Yes, he can".
Otávio Bessa