quarta-feira, 11 de junho de 2008

God save Fernando Pessoa


Fernando Pessoa é possivelmente o mais genial dos poetas de língua portuguesa. Fernando Antônio Nogueira Pessoa em seus 47 anos de vida deixou uma obra vasta. Escrevia incrivelmente a partir de heterônimos de personalidades e estilos muito distintos. Tão fascinante quanto sua obra é sua biografia cheia de mistérios e imprecisões.

Este progama da Globonews é o primeiro episódio de uma série bastante interessante sobre o grande Fernando Pessoa. Apreciem.




Um dos meus poemas favoritos de Fernando Pessoa assinado pelo heterônimo decadentista e, posteriomente, futurista Álvaro de Campos:

ODE TRIUNFAL
6-1914



À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!

Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L'Opéra que entram
Pela minh'alma dentro!

Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!

(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)

A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!

Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes -
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!

Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!

Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente.
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!

Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes -
Na minha mente turbulenta e encandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.

Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta).

Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.

Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!

Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!

(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)

Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas.

E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!

Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de...,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!

Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! -
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosamente gente humana que vive como os cães
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!

(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)

Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!

Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!

Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.

Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos brocas, máquinas rotativas!

Eia! eia! eia!
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!

Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!

Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!

Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!

Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!

Londres, 1914 - Junho.




Otávio Bessa

Obama: ele pode sim



Por Ivan Lessa

Em 1964, Sammy Davis Jr estrelou um musical da Broadway intitulado Golden Boy, com música e letra de Charles Strouse e Lee Adams e direção de Arthur Penn. Ganhou o Emmy, o equivalente teatral ao Oscar, e a montagem ficou em cartaz dois anos.

Veio para uma temporada em Londres em 1968 e eu dei a sorte de pegar.

Golden Boy era a adaptação de uma peça de 1939 do dramaturgo de esquerda Clifford Odets, no mesmo ano filmada com William Holden e contava a história de um jovem italiano enfrentando o dilema arte (queria ser violinista) e dinheiro (querem que seja pugilista).

Prestava-se como uma luva - de boxe - para a adaptação: um lutador negro, pronto para ser explorado por quem o cercasse, brancos e negros. Eram, afinal, os anos 60 e os direitos civis estavam na agenda. Inclusive, e muito, na agenda pessoal de Sammy Davis.

A uma certa altura, com os primeiros cobres surgindo, o personagem de Sammy, Joe Napoleon, canta a música This is the life, cercado pelo séquito habitual. Aqui um trecho:

"Can I be what I wanna be?"
E o coro:
"Yes, you can!""Can I get what I wanna get?"
De novo o coro
"Yes, you can!"
Sammy pergunta:
"Can I have a car with a built-in bar,Color TV and a Playboy key,And a hundred shares of AT&T?"
E por aí afora. O séquito sempre repetindo:
"Yes, you can, yes, you can!"


O sucesso do musical e desse número, com seu devido bordão, deram o título para a autobiografia de Sammy Davis, escrita com (ou por) Burt e Jane Broyar, de 700 páginas, e publicada em 1965: Yes I Can. Na ocasião, Strouse e Adams compuseram uma música especial com esse título para Sammy gravar como um "single" para a Reprise Records.

Vida riquíssima a do talentoso e versátil entertainer americano que podia e fazia de tudo. Mais do que o resto da turma do Rat Pack (Sinatra, Dean Martin, Peter Lawford, etc) Sammy cansou-se de fazer a campanha de direitos civis (foi preso mais de uma vez, recebeu porrada e escarradas na cara) e, em 1960, saiu pelo país promovendo a candidatura de John Fitzgerald Kennedy para a presidência.

Eleito, JFK não o convidou para o baile inaugural. Sammy havia se casado com uma branca, ainda por cima sueca, May Britt. Negro com branca pegaria mal na Casa Branca do carismático e jovem presidente tido como liberal.

Não, o casal não podia. Não, eles não podiam.

A bofetada não foi grande novidade para Sammy. No livro, conta como, em Las Vegas, no auge de sua popularidade, entretinha nos hotéis e cassinos mais famosos, mas não podia neles se hospedar, chegar ao bar ou uma roleta. Porque era negro.

Não, ele não podia.

Nas eleições de 1968, Sammy Davis foi muito criticado por ter passado a votar pelos republicanos, ou, no caso, em Richard Nixon. Pasmo geral. Como é que pode, né mesmo? Sammy pôde. Apesar da repulsa nos meios liberais-democratas. Ele conhecera coisa bem pior.

Não foi fácil a vida de Sammy Davis. Ficaram os discos, muitos discos, filmes e filmetes e clips, ora na internet (vide, mas vide mesmo, YouTube). O homem era muito melhor do que lhe davam crédito. Inclusive como pessoa.

Sim, ele podia.

A conexão Obama

O slogan da campanha de Barack Obama é "Yes We Can". Não foram pagos quaisquer direitos aos herdeiros de Sammy Davis. Nem passaram um, que fosse, um recibinho.

Obama pode, pode sim. Pode e vai. Basta olhar para os cortes de seus ternos e sorrisos e atentar para sua retórica. Continuam comparando-o a JFK e madame Obama a Jackie (futura O). Sammy Davis, mais uma vez, não poderá comparecer ao baile inaugural.

Quanto à agenda política de Obama, é tão ou mais misteriosa quanto a de seu mentor espiritual JFK. JFK com menos de 6 meses no poder invadiu Cuba e deu início à escalada da Guerra no Vietnã.

Obama, de concreto mesmo, apenas sua declaração recente diante do mais importante lobby judaico americano. Depois das platitudes habituais sobre o Irã, afirmou que "Jerusalém continuará a ser capital indivisa do estado de Israel".

A esse mesmo respeito, nenhum presidente americano manteve essa mesma palavra dada nos últimos 41 anos. E todas as embaixadas, mesmo a americana, estão localizadas em Tel Aviv. Ao que parece, Obama desconhecia o fato, mas trajava um terno de dar inveja ao populacho eleito e eleitoral.

O que mais disse Obama? Disse discursos. Sorriu. Tirou e botou paletós. Sim, ele sabe. Sim, ele pode. Pode, sim.

Uma palavrinha final

A ativista e sufragista americana, Victoria Claflin Woodhull, branca, foi designada pelo Equal Rights Party como candidata à presidência da república dos Estados Unidos da América do Norte em 10 de maio de 1872 e teve sua candidatura ratificada em convenção no dia 6 de junho.

Seu companheiro de chapa, candidato à Vice-Presidência da República? O abolicionista, editor, autor, estadista e reformista Frederick Douglass, um negro.

Não, eles não puderam.

Foram apenas primeirões. Feito Sammy Davis.



Retirado de :http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2008/06/11/obama_ele_pode_sim_1352181.html

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sim, ele "tá podendo"!


E Barack Obama, finalmente, venceu. Quem em 2004 despontava como um "jovem carismático de nome engraçado", é, hoje, o candidato presidencial do Partido Democrata. Numa disputa incerta, ninguém dá certeza na vitória de nenhum candidato no pleito de novembro. Mas mesmo com uma eventual derrota, o senador de Illinois em primeiro mandato Barack Obama já promoveu um verdadeiro turbilhão na política americana, que já marcarão bastante as campanhas e o comportamento de grande parcela da população americana em relação a política por muitos anos.

Primeiro negro com fortes chances presidenciais, Barack cultiva a imagem de "outsider" e se coloca, muitas vezes de maneira um tanto vazia, como o candidato da mudança. Numa leitura mais panorâmica, sua candidatura é fruto de uma séria de fatores de esgotamento.

O primeiro é a grande impopularidade do governo de George W. Bush: sob a égide deste governo, o país se encontra numa guerra despendiosa e sanguinolenta no Iraque, cujos resultados práticos são muito dúbios; uma economia com sinais latentes de recessão, gerando aummento do índice de desemprego e dos juros; uma política tributária considerada injusta, já que durante a Era Bush, houve grande desoneração das classes mais ricas da sociedade; além da permanente ausência de um sistema público de saúde universalista, o que desampara cerca de 15 milhões de americanos. Isto, naturalmente, torna o cenário muito mais propício para a oposição democrata(que, nas últimas dez eleições, foi vitoriosa em apenas três), prova-mor disto foi a conquista da maioria no Senado e na Casa dos Representantes nas eleições legislativas de 2006.

Outra questão é, como o voto nos EUA é optativo, a enorme dificuldade de um candidato tido como tradicional atrair setores que, normalmente, não comparecem em grande número nas eleições: principalmente, jovens e grupos étnicos ainda pouco representados, negros e latinos(este último apresentou um expressivo crescimento nos últimos anos devido ao fenômeno imigratório e não apresenta de forma uniforme um perfil de voto claro). Filho de um queniano de religião muçulmana com uma uma mulher branca do estado do Kansas, nascido e criado pela avó no Hawaii e tendo passado parte da adolescência na Indonésia, Obama, por sua imagem carismática e trajetória de vida incomum, consegue passar sua mensagem de renovação. Por ser negro, conquistou um forte apelo entre os afro-americanos, sem apelar para o que chama de "discurso da vitimização" e/ou "limitar-se ao gueto"(venceu com facilidade nos estados de grande população negra como Carolina do Norte, Geórgia, Alabama etc), por exemplo, conseguindo vitórias nas primárias em estados em que este segmento é demograficamente pouco expressivo(Utah, Iowa, Wyoming, Montana, entre outros). Algo inédito até aqui. Ele próprio define sua candidatura como "pós-racial". O lema da campanha é o universalista "Yes, we can".

Atrelado a isto, pode-se, também, destacar o papel decisivo de sua estratégia de marketing inovadora. Barack Obama soube ganhar força por meio da evolução tecnológica. É a primeira eleição em que a internet vai ter forte peso. A campanha do senador foi a que mais arrecadou fundos, entre os pré-candidatos de todos os partidos. Para isto, valeu-se bastante de doações de simpatizantes via rede mundial de computadores. Também, foram feitos uma série de vídeos para arrebatar o público "digitalizado". Os jovens eleitores de Obama, ainda, utilizaram a Internet para uma maior divulgação extra-oficial do candidato, como na popular gravação "Si, se puede".

Para vencer as eleições, a imagem inovadora do candidato pode não ser o suficiente. Talvez até a chave de sua de sua derrota: segundo o linguista norte-americano Noam Chomsky "o racismo americano vai fazer Barack perder". Independentemente de tudo isto, a "América não se enxergará como antes" e o debate eleitoral de 2008 será tido como um marco.



Otávio Bessa