quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Outra vez a Velha Infância


Cada vez que vejo o meu irmão mais novo assistir, com empolgação inerente a uma criança de sete anos, a episódios de desenho animado na TV, fico a me lembrar dos meus tempos de criança, quando fazia a mesmíssima coisa.

Enquanto, juntamente com ele, acompanhava a um desenho intitulado “As Tartarugas Mutantes Ninja” fui aos poucos me lembrando desse mesmo cartum, só que transmutado para a década de 90, quando se chamava apenas “As Tartarugas Ninja”. Recordei-me imediatamente do jargão próprio daqueles indivíduos, o famoso “Santa Tartaruga!” e esperei ansiosamente pelo momento em que eles diriam novamente aquela frase que eu tinha certeza que me traria de volta aos meus tempos de alfabetização, primeira série. Tamanha foi a minha decepção quando Rafael (a tartaruga mais extrovertida dentre as quatro da série) exclamou: Santa Pizza!

Todos nós sabemos que a reedição e reformulação de algumas séries antigas como a já supracitada Tartarugas Ninja além de outras de super-herói como He-Man e Homem Aranha é comum nos dias de hoje. A história acaba sendo a mesma, porém a abordagem é um pouco diferenciada, em conexão com os acontecimentos, modos de vida e tecnologias atuais. Mesmo assim, confesso que ao ouvir aquilo senti uma grande tristeza.
Já que aquele desenho havia ultrapassado a barreira temporal, resolvi perguntar ao meu pequeno irmão se ele já havia ouvido falar, ou até mesmo assistido, a saudosos desenhos de minha época. Perguntei-lhe primeiramente sobre o Capitão Planeta, glorioso herói que era convidado a combater em prol do Meio Ambiente cada vez que cinco garotos, os chamados “Protetores”, combinavam elementos da natureza (Terra, Fogo, Vento, Água e Coração) através de anéis de poder. Para meio espanto ele nunca tinha ouvido falar.

Depois indaguei sobre outro de meus tempos, o Perdido Nas Estrelas, desenho o qual um garoto possuía uma luva de beisebol que realizava desejos. Era somente ele subir em sua casa na árvore (nesse tempo todo mundo queria ter uma), calçar a sua luva e bater com o outro punho nela dizendo: “Eu desejo ser rico, eu desejo ser rico, eu desejo ser rico” imediatamente o desejo se realizava e terminava ao prazo de um dia. A resposta dele foi negativa, novamente.

Nesse momento resolvi apelar. Perguntei sobre o “Caverna do Dragão” desenho que inclusive ainda passa, às vezes, na Rede Globo de TV. “Às vezes” foi também o que ele me respondeu.

Não era possível que ele não apreciava nenhum espetáculo animado que tanto mobilizou a minha infância. Tentei o Corrida Maluca, o Animaniacs, Jiraya (este me custou algumas surras, pois ao lutar contra o vento imitando o personagem, cheguei a quebrar alguns pertences de minha mãe), Jaspion, Capitão Caverna, De volta Para o Futuro (nesse, ao fim de cada episódio o professor ensinava alguma experiência. Passei um ano de minha vida querendo ser cientista.), Doug Funny, Gato Félix, Caça-Fantasmas, Fievel - Um conto Americano, Gasparzinho, Thundercats, Inspetor Bugiganga, Johnny Quest, Pink e Cérebro, Ligeirinho, Manda-Chuva e seus amigos, o Máscara, Fantástico Mundo de Bob, Ursinhos Carinhosos, Riquinho, Zé Colméia, Tico e Teco e... Nada! Não conhecia quase nenhum!

Depois dessa infeliz constatação, fico a me perguntar o que mais, além das mudanças tecnológicas e de visão de mundo, fez grandes obras animadas se esfacelarem com o passar dos anos. Será que a inocência contida naquelas obras não é mais compatível com os novos ares da sociedade? Será que ideais de vida condizentes com o tão saudado “Carpe Diem” dos desenhos animados antigos não mais entoam com o sentimento de tensão e frustração que as novas crianças são expostas diariamente nos meios sociais? Por que será que apenas desenhos que instigam a luta e a competição, como Cavaleiros do Zodíaco e Pokemom, foram preservados e levados de volta a programas matinais infantis? Será que essa preservação foi premeditada ou é só mais uma mera coincidência? É claro que generalizar é um ato indecoroso. Ainda existem desenhos antigos que estão no gosto dos meninos mais novos, como Mickey e Pernalonga, por força da marca, talvez. Mesmo assim esta é, sem dúvida, uma parcela muito pequena dentre a infinidade de obras que existiram e encantaram outrora.

Reflexões a parte, resolvi mostrá-lo esses desenhos antigos na internet (mostrá-lo, não. Na verdade quem queria realmente ver era eu. Para ele, acho que pouco importaria. Mesmo assim ele aprovou a idéia) e passamos (ou seria passei?) horas tendo mais ou menos a mesma idade: sete anos.

Felipe Vega

4 comentários:

Anônimo disse...

Seu irmão é um fanfarrão e precisa de um reorientação em termos de desenhos animados...rárárárárárará

:P

Bele texto, ainda na sempre oportuna linha "viver é recordar"!

Unknown disse...

bom...
eu acho que os desenhos de hoje são muito instantâneos, com a mesm velocidade que eles aparecem, eles desaparecem, então fica claro que eles não são mais feitos no sentido de entreter, e sim no intuito de lucrar com os direitos autorais sobre seus produtos a venda, então tudo deixa de ser algo feito para mexer com a cabeça dos jovens, criar tendêcias para ser algo apenas comercial.


"beijo nas meninas e aquele abraço nos caras" como diria Alex

Rafael Kururu

Anônimo disse...

E olha que você esqueceu dos clássicos da Disney...
Velhos tempos, que nem são tão velhos assim. É incrível como em dez anos muita coisa muda. Resta àqueles que tiveram o prazer de vivenciar essas preciosidades preservarem o que já está meio esquecido...

Anônimo disse...

É, meu caros... Se vcs, meros pós- adolescentes de pouco mais de 18 anos já estão neste saudoso momento peculiar de relembrar o passado, imagine eu, rapaz que já quase perpassa a porta malígna (e sem volta) dos 30 anos?

Acho que não há nada mais traumático para um homem do que transpassar tal faixa etária. Um monte de cobranças sociais rasgam sua vida. Diversas. Desde moradia própria e casamento, até as inderetas maternas pedindo um neto...

Bem, não me alongarei nestas agruras naturais de um quase trintão. Sobre os desenhos, sinto que realmente a mudança tem caráter bastante objetivo. Até o mágico precisar trazer "força", "competitividade", "espírito de liderança". Nosso guris, pelos desenhos, aprendem a ser empreendedores.

Há pouco mais de dois anos, fiquei com o célebre Mestre Marcelo Brites, prof. de Física, por mais de 4 horas, relembrando desenhos. Éramos fantasiosos e não sabíamos. Qdo a magia se perde, como podemos dizer que estes guris, de cara para um Pokemon, continuam crianças?