sábado, 16 de fevereiro de 2008

E (não)é mais uma vez na América


Faltando pouco menos de 9 meses para as eleições presidenciais norte-americanas, o mundo já se questiona quais os possíveis caminhos que a maior potência mundial pode vir a seguir.

Durante os oito anos do governo de George W. Bush, o mundo assistiu a uma ascensão do neocorsevadorismo, uma insólida aliaça entre a direita religiosa mais insuflada e os setores mais elitizados do país, construída a partir de um contraditório discurso do medo. Segundo esta corrente, o Estado não deve intervir na economia, ao mesmo tempo, deve ser preponderantemente invasivo nas questões comportamentais, como a proibição do aborto e da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Este modelo, contudo, foi bastante desgastado. A Era Bush deixa como legado uma economia desacelarada, o aumento do número de desempregados, o corte de impostos para as camadas mais ricas, a ausência de uma política resolutória para a questão da imigração, uma mal-sucedida invasão militar no Iraque, motivada vale ressaltar, por argumentos questionabilíssimos, e uma das piores imagens do país no exterior em toda história.

Tudo isto contribuiu para um acentuado declínio do seu partido, os republicanos, com as vitórias dos candidatos do Partido Democrata em 2005, que levaram a uma maioria oposicionista na Casa dos Representantes e no Senado. É natural, consequentemente, o favoritismo dos candidatos democratas sobre os do GOP(como os militantes republicanos chamam sua agremiação).

Nenhum pré-candidato republicano procura se intitular "legítimo herdeiro da Era Bush", Rudolph Giuliani tem uma postura bastante liberal em relação a comportamento, Ron Paul adota uma postura excessivamente libertária, de não-intervencionista, contra subsídios e ações militares, o pastor batista Mike Huckabee folcloricamente abraça a direita religiosa tradicional e Mitt Romney comumente se diz inspirado pelo conservadorismo de outro ícone americano: Ronald Reagn. Após a desistência dos candidatos mais competitivos, John McCain francamente desponta como favorito. Este experiente senador de 72 anos do Arizona, contudo, sofre pela rejeição de setores mais conservadores do partido pela sua postura de tolerância e apoio a legalização dos imigrantes, sendo taxado até de "pouco conservador". Num país onde o voto não é obrigatório, a ausência do eleitorado evangélico, por exemplo, pode fazer toda a diferença. E, neste clima de questionamentos existenciais, o partido que governou 24 dos últimos 32 anos da história americana entra, agora, na defensiva.

Já no Partido Democrata, a peleja é muito mais acirrada e entusiasmante. Após muitas prévias e a desistência de interessantes figuras como o hispânico governador do Novo México e ex-secretário de Energia Bill Richardson e do ex-senador de "retórica paternalista" John Edwards, consolidam-se as mais fascinantes e magnéticas opções: a senadora de Nova York e ex-primeira-dama Hillary Clinton e o senador de Illinois Barack Obama. É a inédita consistente chance de uma mulher ou um negro ocupar a Casa Branca e, sob muitos prismas, o cargo mais importante do mundo.

A primeira candidata se utiliza principalmente de sua experiência administrativa na última gestão democrata no nível federal, de sua maior trajetória no Senado americano e do prestígio e popularidade do seu marido, o ex-presidente Bill Clinton. Hillary é formada em Yale, a melhor e mais concorrida escola de Direito do país, na década de 1980 foi considerada top-10 entre os advogados americanos mesmo atuando na provinciana Little Rock, capital do secundário estado do Arkansas e é uma das cabeças mais atuantes e influentes do parlamento. Embora tenha todo este currículo, seus críticos justamente a acusam de não ser uma candidata tão "self-made woman", justamente pela sua imagem estar tão atrelada ao esposo. Inicialmente, chegou a liderar com folga as pesquisas nacionais por ser uma das figuras mais conhecidas da nação e logo atrair atenção de jornais e talk-shows. Com o início das prévias e, por isto, a maior exposição de seu principal adversário, Barack Obama, a Clinton da vez perdeu terreno: parte do eleitorado negro, que tendia a ela inicialmente, por exemplo, migrou e houve derrotas que, inicialmente, não eram tão esperadas, como nas primárias de Iowa e South Caroline. Hillary, basicamente, venceu na maioria dos estados tradicionalmente democratas como New York, New Jersey, California e Massachusetts, o que não é, necessariamente, um indicador muito bom: são locais em que um candidato democrata, seja ele qual for, deve vencer com relativa facilidade em novembro. É mais atrativa entre os pobres, mulheres e eleitores de origem latina. Até esta grande vantagem nestas fatias, porém, na qual é hegemônica já demonstra sinais de diminuição gradual. Tudo isto levou a um marketing de campanha cada dia mais agressivo. Bate, insistentemente, na tecla de que é uma candidatura mais consistente, tem um melhor e mais claro plano de governo, procura, assim, dar um mais pragmático a campanha, em contraste com o "carisma superficial" de Obama.

No outro lado, temos um roteiro hollywoodiano ambulante, uma versão africanizada de John Kennedy. Com todas as críticas possíveis a Barack Obama, é inegável sua ascensão na política estadunidense. Nascido em Honolu(sim, aquela cidade-paraíso dos surfistas localizada no simpático arquipélago do Hawaii), é filho de mulher branca do meio-oeste americano, mais precisamente do estado do Kansas(tamanho o conservadorismo por lá que é proibido se ensinar nas escolas o ideário evolucionista de Charles Darwin), e de um queniano de formação muçulmana(um detalhe curioso desta parte da família é que o nome do meio do pré-candidato é, nada mais, nado menos, do que Hussein). Viveu a infância e parte da adolescência na Indonésia, depois retornando ao Hawaii para concluir os estudos na casa de sua avó, branca. Está longe de ser, portanto, um clássico exemplo de afro-americano. Graduou-se, então, em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade de Columbia e depois formou-se em Direito pela prestigiosa Harvard. Casou-se com a também negra Michelle Robinson, sua colega do curso no último curso, e escolheu morar num subúrbio de afrodescendentes em Chicago. Lá dedicou-se, basicamente, a defender causas das pessoas mais pobres e à ação social. Em 1996, elegeu-se senador estadual e, depois de uma fracassada candidatura a Casa dos Representantes em 2000, elegeu-se, surpreendentemente, senador em 2004, derrotando Alan Keys, uma das mais importantes lideranças negras do Partido Republicano, ex-secretário do governo Reagan e atual embaixador dos EUA na Organização das Nações Unidas(ONU). Em 2006, resolveu lançar-se a presidência. Entre todos os aspirantes até agora, é o mais novo, tem apenas 46 anos. Cultiva a idéia de que é um "outsider" da política, alguém avesso às viciadas regras do estabilishment. Foge do discurso racial, segundo ele, "não faz política baseado na vitimização" e "enxerga todos os americanos como americanos", o que é, possivelmente, um sinal de maturidade. Utilizando-se de um enorme carisma messiânico, de um fenomenal apelo e de uma retórica sobre "mudanda real", "esperança" e "união", viu nascer uma verdadeira "obamamania". É, disparadamente, o candidato mais mobilizador entre os jovens e as celebridades de Hollywooed. Após receber apoio da popularíssima apresentadora Oprah Winfrey e do líder do movimento negro americano Jesse Jackson, este último, um exponencial aliado de Bill Clinton, viu sua candidatura crescer muito entre os negros. É, também, o favorito entre os mais ricos. Quanto mais nebulosa é o resultado derradeiro dos democratas, mais forte se torna, pois fica, assim, gradativamente mais conhecido. Obama é mais forte também nos estados tradicionalmente republicanos e onde há uma disputa mais acirrada entre os dois partidos, o que é fundamental num ano de desunião interna dos rivais. Os oponentes, entretanto, o acusam de ser um candidato raso, com um discurso cheio de frases de efeito e poucas propostas efetivas, além de acusações de inexperiência e até ingenuidade. Capitaliza-se, todavia, porque, ao contrário de Hillary, foi, terminantemente, contra a invasão do Iraque(um denominador comum dos democratas) deste o início, por exemplo. Dentre suas principais propostas, destacam-se medidas de prevenção ao meio ambiente, uma política externa de tom conciliatório e um maior fechamento das barreiras alfandegárias para evitar a "exportação de empregos". Tudo isto, ainda é pouco. Ele, contudo, parece não se importar, quer continuar sendo o "novo" e isto, aparentemente, já lhe basta.


Nos últimos debates, em especial o realizado em Los Angeles na California, o que se viu foi um tom mais amistoso, porém duas posturas bem distintas. Enquanto Hillary falava de "health care" e "imigration", Obama parecia não se importar com a variedade dos questionamentos: suas frases eram sempre repletas de simpáticos "hopeless", "changement" e "work", fora todos os seus encantadores bordões. O mais incrível de tudo é que "Yes, he can".
Otávio Bessa

15 comentários:

Túlio disse...

Comentário apenas para o incentivar a escrever :P...

E viva Barack Hussein Obama! Rumo à Casa Branca (Negra?).

Alexandre Macedo disse...

De todos os candidatos, o Obama parece ser o mais confiável e disposto a mudar algo, ainda que não seja algo, digamos, revolucionário como muitos esperam...

Unknown disse...

Literalmente, José Arbex Jr. afirmou: "Obama, um falso brilhante entre medíocres."

Mas ainda prefiro ele.

Anônimo disse...

"A Era Bush deixa como legado [...] uma mal-sucedida invasão militar no Iraque"

O Iraque foi muito bem invadido, e na hora certa. Havia motivos históricos e morais para tal. Alguns problemas surgiram depois, com os quais o próprio Bush já vem lidando de forma eficaz. É só analisar a redução no número de mortos em guerra. Agora, as coisas precisam ser resolvidas por lá. E o único que me parece capaz de de fazer isso é o McCain.

Son Akira e Sasha Spider, plutonianos perdidos, sem planeta, e, agora, editores-chefes da tribuna mais revolucionária da órbita terrestre! disse...

"Mal-sucedida" porque é uma invasão muito mais sanguinolenta, custosa e difícil do que se esperava. O número de soldados americanos e de iraquianos mortos foi subestimado. A resistência local idem. Foram destruídos até sítios arqueológicos da civilizações mesopotâmias. Tudo isto por um preço altíssimo. Além de que as justificativas iniciais, a presença de armas químicas e biologócias no arsenal do famigerado Saddam Hussein, de fato, era uma grande mentira.

Unknown disse...

creio que o mundo não precisa de presidentes republicanos para os EUA, então acho que quem melhor se encaixa na presidencia americana é Obama

Anônimo disse...

Thales,

o mundo não precisa de um Jack Bauer ou de um Rambo!

RP disse...

Parabéns pelo blog, e a corrida presidênia nos EUA, realmente está pegando fogo, o futuro da potência mudial e do mundo está em jogo nesta eleição, e o mundo espera ancioso pelo resultado

Anônimo disse...

Parafraseando Caio Blinder, eu endosso Barack Obama.

Anônimo disse...

"A Era Bush deixa como legado uma economia desacelarada, o aumento do número de desempregados, o corte de impostos para as camadas mais ricas, a ausência de uma política resolutória para a questão da imigração, uma mal-sucedida invasão militar no Iraque, motivada vale ressaltar, por argumentos questionabilíssimos, e uma das piores imagens do país no exterior em toda história."

Isso eh ruim?!

Sinceramente, pra mim a grande diferença entre os Republicanos e os Democratas eh q os Republicanos querem fuder o Oriente Medio e os Democratas querem fuder a America Latina... Enquanto Bush tiver lah, os EUA estao se afundando, e assim espero q continue... Ate q akele pais de merda se acabe!!

Unknown disse...

rapaz... vah se tratar na moral..

vc eh intelignt demaiss velho!!!


meros mortais cm eu naum devem conviver com seres intergaláticos cm vc naum pow...


deprecia...
desce auto-estima
u
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hAUHuu
hAUHuu
hAUHu
bjinnnnnnnnnnnnnnnnnn

Anônimo disse...

Acontece no Iraque algo similar ao que aconteceu no Vietnã. A represália irterna não vai parar até a real concretização da retirada militar dos EUA. A VEJA está turvando sua visão e crítica, caro Thales.

Anônimo disse...

Caríssima Laíla! Vejo que você está em ótima companhia: a Caro Amigos!
;D

Anônimo disse...

Mas cuidado,Lai! O fanatismo em algumas vezes atrapalha a imparcialidade da revista...
Em geral, é uma boa leitura!

Guilherme Vasconcelos disse...

Só por sua posição contrária ao terrorismo estadunidense no Iraque e por sua predisposição em adotar um tom mais diplomático e conciliatório na política externa, Obama se configura como a melhor alternativa para os EUA e, consequentemente, para o mundo.

É fácil ser favorável à guerra quando se está sentado na poltrona de casa. Guerra só é legal nos filmes de Rambo.

Bush e todos que apóiam a sua empreitada no Iraque são genocidas. Só a nossa querida grande mídia-partido e seus papagaios que ainda não descobriram.