quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sim, ele "tá podendo"!


E Barack Obama, finalmente, venceu. Quem em 2004 despontava como um "jovem carismático de nome engraçado", é, hoje, o candidato presidencial do Partido Democrata. Numa disputa incerta, ninguém dá certeza na vitória de nenhum candidato no pleito de novembro. Mas mesmo com uma eventual derrota, o senador de Illinois em primeiro mandato Barack Obama já promoveu um verdadeiro turbilhão na política americana, que já marcarão bastante as campanhas e o comportamento de grande parcela da população americana em relação a política por muitos anos.

Primeiro negro com fortes chances presidenciais, Barack cultiva a imagem de "outsider" e se coloca, muitas vezes de maneira um tanto vazia, como o candidato da mudança. Numa leitura mais panorâmica, sua candidatura é fruto de uma séria de fatores de esgotamento.

O primeiro é a grande impopularidade do governo de George W. Bush: sob a égide deste governo, o país se encontra numa guerra despendiosa e sanguinolenta no Iraque, cujos resultados práticos são muito dúbios; uma economia com sinais latentes de recessão, gerando aummento do índice de desemprego e dos juros; uma política tributária considerada injusta, já que durante a Era Bush, houve grande desoneração das classes mais ricas da sociedade; além da permanente ausência de um sistema público de saúde universalista, o que desampara cerca de 15 milhões de americanos. Isto, naturalmente, torna o cenário muito mais propício para a oposição democrata(que, nas últimas dez eleições, foi vitoriosa em apenas três), prova-mor disto foi a conquista da maioria no Senado e na Casa dos Representantes nas eleições legislativas de 2006.

Outra questão é, como o voto nos EUA é optativo, a enorme dificuldade de um candidato tido como tradicional atrair setores que, normalmente, não comparecem em grande número nas eleições: principalmente, jovens e grupos étnicos ainda pouco representados, negros e latinos(este último apresentou um expressivo crescimento nos últimos anos devido ao fenômeno imigratório e não apresenta de forma uniforme um perfil de voto claro). Filho de um queniano de religião muçulmana com uma uma mulher branca do estado do Kansas, nascido e criado pela avó no Hawaii e tendo passado parte da adolescência na Indonésia, Obama, por sua imagem carismática e trajetória de vida incomum, consegue passar sua mensagem de renovação. Por ser negro, conquistou um forte apelo entre os afro-americanos, sem apelar para o que chama de "discurso da vitimização" e/ou "limitar-se ao gueto"(venceu com facilidade nos estados de grande população negra como Carolina do Norte, Geórgia, Alabama etc), por exemplo, conseguindo vitórias nas primárias em estados em que este segmento é demograficamente pouco expressivo(Utah, Iowa, Wyoming, Montana, entre outros). Algo inédito até aqui. Ele próprio define sua candidatura como "pós-racial". O lema da campanha é o universalista "Yes, we can".

Atrelado a isto, pode-se, também, destacar o papel decisivo de sua estratégia de marketing inovadora. Barack Obama soube ganhar força por meio da evolução tecnológica. É a primeira eleição em que a internet vai ter forte peso. A campanha do senador foi a que mais arrecadou fundos, entre os pré-candidatos de todos os partidos. Para isto, valeu-se bastante de doações de simpatizantes via rede mundial de computadores. Também, foram feitos uma série de vídeos para arrebatar o público "digitalizado". Os jovens eleitores de Obama, ainda, utilizaram a Internet para uma maior divulgação extra-oficial do candidato, como na popular gravação "Si, se puede".

Para vencer as eleições, a imagem inovadora do candidato pode não ser o suficiente. Talvez até a chave de sua de sua derrota: segundo o linguista norte-americano Noam Chomsky "o racismo americano vai fazer Barack perder". Independentemente de tudo isto, a "América não se enxergará como antes" e o debate eleitoral de 2008 será tido como um marco.



Otávio Bessa

Um comentário:

Túlio disse...

Excelente texto.

"I want Barack!"